5 de novembro de 2008

O pescador de idéias.

Na última segunda-feira, 03/11, foi ao ar na TV Cultura o programa Roda Viva, com a participação de David Lynch.

Cultuado cineasta americano, Lynch é conhecido por filmes bizarros, que abusam de elementos nonsense e preservam a identidade de um verdadeiro artista.
Uns odeiam, outros tantos amam. Estou no grupo dos que amam – mesmo não entendendo muito sua proposta.

Por mais que sua filmografia seja de extrema relevância para o cinema considerado “moderno”, ela não foi o centro das atenções na pauta do programa.

Lynch acaba de lançar um livro sobre meditação transcendental, chamado Em Águas Profundas – Criatividade e Meditação, e tem se dedicado à divulgação do tema por vários países (ele veio ao Brasil em agosto, momento em que gravou o Roda Viva).

Ainda não li o livro (repito, ainda), mas o ponto defendido por Lynch na obra é a prática da meditação como rica fonte de inspiração, criatividade e, principalmente, da felicidade eterna. E, me diz, como duvidar de um cara que fez filmes brilhantes, criativos desde a atitude do figurante que não aparece, às reviravoltas mais “pulga-atrás-da-orelha” do cinema? Não dá, né. Essa tal meditação deve mesmo funcionar. E mergulhar nos níveis mais profundos da consciência humana atrás de boas idéias até que faz sentido, eu acho.

No entanto, é paradoxal pensar que um cineasta que faz obras que despertam de tudo no espectador, menos o sentimento de alegria, esteja “pregando” uma prática que facilita o acesso à felicidade eterna. Afinal, é impossível dar pulos de alegria após ver um filme como Império dos Sonhos ou O Homem Elefante.

Ainda no campo das idéias, Lynch se mostrou um verdadeiro alienado quando o assunto é...cinema!?
Pois é, ele praticamente não assiste filmes (ele se pergunta como Martin Scorsese encontra tempo para vê-los, a ponto de ser considerado um entusiasta nesse quesito), e demonstrou também não saber muito o quê se passa no cinema americano, listando apenas diretores europeus como os que, eventualmente, acompanha. Quando pressionado, citou um único diretor americano que admira muito: Paul Thomas Anderson. Sim, PTA, diretor de Boogie Nights e Sangue Negro, um dos meus favoritos há tempos.

É interessante avaliar que um artista tão influente fique, de certa maneira, distante do mundo onde sua arte ganha vida. Muito se discute que a criatividade, as novas idéias, surjam da combinação de referências, de um rico e acumulado repertório cultural, social etc.


Lynch, pelo visto, não é desses caras. O negócio dele é meditar e buscar a originalidade dentro de si.

Tem funcionado. E convenhamos, é muito mais barato do que ir toda semana ao cinema e insistir em montar uma coleção perfeita de DVDs. =p
Dá-lhe meditação.

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